As mulheres e a pedofilia

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

É com uma certa frequência que, infelizmente, ouvimos falar de casos de abuso sexual contra crianças. Nos últimos anos, ficamos chocados ao ver vários homens - entre eles até padres e médicos - acusados de pedofilia. Nesta semana, a população inglesa ficou estarrecida com um caso incomum: duas mulheres confessaram ter abusado de crianças.

Além de responderem por esse crime, Vanessa George (foto), que trabalhava em uma creche, e Angela Allen também estão sendo acusadas de tirar fotos indecentes com as crianças e enviá-las para o empresário Colin Blanchard. Ele era amigo das duas no Facebook, onde os três trocavam mensagens sobre suas fantasias sexuais doentias, mas só as encontrou pessoalmente no tribunal. A investigação que culminou com a prisão dos três teve início quando uma colega de trabalho de Colin, ao usar seu computador, viu a foto de uma criança e o denunciou à polícia.

Embora Angela, Vanessa e Colin sejam acusados dos mesmos crimes, há um agravante contra Angela: ela trabalhava em uma creche e pode ter feito muitas vítimas. Os pais das 60 crianças que passaram pela escolinha Little Ted, em Plymouth, enquanto Angela trabalhava lá agora querem saber se seus filhos sofreram ou não abuso. Pelas fotos, que não mostram o rosto, não é possível identificar a maior parte das vítimas. E muitas vezes o abuso não deixa marcas físicas, especialmente quando é cometido por mulheres.

Esse caso gerou em mim total ojeriza por inúmeras razões. Uma delas é que Angela George de fato cometeu o crime de que foram injustamente acusados os donos da Escola Base, em São Paulo; e, ao cometê-lo, criou uma desconfiança generalizada entre os pais sobre as creches e escolinhas que seus filhos frequentam, um verdadeiro pesadelo. Outro motivo é porque Angela é uma mulher. Não que os homens tenham qualquer desculpa para praticar tais atos horrendos, mas pensar que até uma babá pode ser pedófila é, no mínimo, perturbador.

Mais perturbador ainda é o caso narrado em uma reportagem do jornal The Independent que li pouco tempo atrás. Ela trazia o depoimento de Sharon Hall (nome fictício), uma mulher que, durante toda a infância, havia sofrido abuso sexual por parte da própria mãe, a pessoa que, mais do que qualquer outra, deveria amá-la e cuidar dela. Quando tentou falar sobre o assunto com seu médico, já aos 30 anos e grávida de sua própria filha, Sharon ouviu que as acusações eram fantasias de sua cabeça, preocupações neuróticas de uma futura mãe.

Segundo a reportagem, há mesmo uma certa tendência a desacreditar as denúncias de abuso que recaem sobre as mulheres - talvez assim como eram desacreditadas as denúncias de pedofilia contra homens algumas décadas atrás. A mulher, vista como aquela que cuida das crianças, pode não se encaixar mesmo no estereótipo de agressor, mas isso não quer dizer que não existam casos de abusos cometidos por elas. E esses crimes precisam ser investigados e suas responsáveis, presas.

Outro fato que dificulta a situação das vítimas é as agressões acontecerem, em sua maioria, dentro de casa. São mães, tias, avós e babás que destroem a noção do cuidado e deixam completamente vulneráveis suas crianças.

Com esse post, não quero dizer que devemos olhar com desconfiança a enfermeira da creche, a babá, a tia ou a mãe, mas quero trazer à tona o abuso sexual cometido por mulheres, um tremendo tabu hoje em dia. Como demonstra o caso da Inglaterra, trata-se de um crime tão grave quanto o perpetrado por homens. E, para a pedofilia, quem quer que seja o acusado, a resposta vem da Justiça, com pena na prisão.

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